Observe as notícias abaixo:
Você poderia imaginar que
estas situações ocorrem aos milhares, todos os dias, nos serviços de saúde, em
todo o mundo?
Mas, ocorrem... e muitos de nós acaba tendo conhecimento somente através da mídia, dos meios de comunicação.
Todos sabemos que prestação de serviços na área da saúde depende intensivamente da
complexa interação dos diversos fatores necessários ao cuidado do paciente,
entre os quais: relacionamento entre pessoas (interpessoal), manuseio de materiais
e insumos, medicamentos, equipamentos e instalações, e estas variáveis correlacionadas
elevam a chance de algo sair errado. Desta forma, não nos cabe nenhum
questionamento: a insegurança, ou melhor, o RISCO, é fator constante nas
práticas assistenciais no mundo todo.
Nas
últimas décadas, passou-se a reconhecer que as organizações de saúde não apenas
curam doenças e aliviam a dor, mas também podem causar danos e sofrimento. Em 1999, o Institute of Medicine
(IOM) lançou o relatório denominado "Errar é humano" (The Error is Human), onde apresentava e
discutia achados relacionados à falta de segurança nos hospitais
americanos, em decorrência dos erros e falhas causados na assistência aos
pacientes.
Este
relatório foi um grande divisor de águas para que uma mobilização, não só nos
Estados Unidos mas em todo o mundo, fosse iniciada e que ações de melhoria da
qualidade na assistência de segurança do paciente ocupassem lugar nas pautas de
discussões estratégicas dentro das instituições de saúde e fossem implementadas
de forma imediata. Desde então, a Organização Mundial de Saúde (OMS) tem
demonstrado sua preocupação com a segurança do paciente e adotou-a como tema de
alta prioridade na agenda a partir do ano 2000.
Confrontada com a importante desta questão, a 55ª Assembléia
Mundial de Saúde ocorrida em 2002, adotou uma resolução encorajando os países a
prestar o máximo de atenção possível a este problema e a reforçar a segurança na
assistência e estruturar sistemas de monitoramento. A resolução solicitou à OMS
que liderasse a elaboração de normas e padrões mundiais e apoiasse os países
nos esforços de desenvolvimento de políticas e práticas de segurança do
Paciente.
Em parceria com outras instituições, o Instituto para a Melhoria de
Cuidado à Saúde (Institute for Healthcare Improvement - IHI) instituiu,
em 2004, a Campanha das 100 mil vidas, uma iniciativa voluntária, de caráter
nacional nos Estados Unidos, que envolveu 3.100 hospitais (aproximadamente 75%
dos leitos hospitalares) com o objetivo de reduzir 100 mil mortes
desnecessárias num período de 18 meses (IHI, 2004). O resultado foi amplamente
favorável, tanto que em 2006 a campanha foi praticamente reeditada com nova
meta: evitar cinco milhões de casos de danos decorrentes da
assistência em saúde, em um período de dois anos (dezembro de 2006 a dezembro de 2008), intitulada Campanha Cinco Milhões de Vidas.
Também em 2004, no mês de maio, a 57ª Assembléia Mundial de
Saúde aprovou a criação de uma aliança internacional para tornar a segurança do
paciente uma iniciativa mundial e, em outubro, foi lançada a Aliança Mundial para a Segurança do
Paciente, onde, pela primeira vez, chefes de representações, autoridades e
grupos de pacientes de todas as partes do mundo reuniram-se para promover este
objetivo - “Primeiramente, não provocar danos” - e para reduzir conseqüências
adversas causadas pela prestação de cuidados inseguros e pela má qualidade da
assistência na saúde.
cartaz da Campanha
Esta aliança já nasceu com o foco em
conscientizar e conquistar o compromisso político, lançando programas, gerando
alertas sobre aspectos sistêmicos e técnicos e realizando campanhas
internacionais que reúnem recomendações destinadas a garantir a segurança dos
pacientes ao redor do mundo. Concentrou
suas ações nas seguintes áreas: Desafio global para a Segurança do Paciente;
Pacientes em Defesa de sua Própria Segurança, Taxonomia/Classificação
Internacional para a Segurança do Paciente, Investigação, Soluções para a
Segurança do Paciente e Notificação e Aprendizagem, entre outros (ver quadro
abaixo) e publicou a cada dois anos um programa estabelecendo suas atividades.
Em 2005, a The Joint Commission, a
mais importante organização de certificação de qualidade em assistência
médico-hospitalar em todo o mundo, e seu braço internacional, a Joint Commission International (JCI),
foram designadas como o Centro Colaborador da OMS em “Soluções para a Segurança
do Paciente”, sendo papel desse Centro a elaboração e a difusão de soluções que
visem a Segurança do Paciente.
A partir de 2008 a JCI recomendou a implantação de seis Metas Internacionais de Segurança do Paciente, com o propósito promover melhorias específicas em áreas problemáticas na assistência, como estratégia para redução do risco de erros e eventos adversos em Instituições de Saúde. São elas:
Meta 1. Identificar os pacientes corretamente
Falhas na
identificação do paciente podem resultar em erros de medicação; erros durante a
transfusão de hemocomponentes e em testes diagnósticos; procedimentos
realizados em pacientes errados e/ou em locais errados; entrega de bebês às
famílias erradas; entre outros.
A identificação do paciente visa garantir a
segurança do paciente em qualquer ambiente de cuidado à saúde, incluindo
unidades de internação; pronto atendimento; coleta de exames laboratoriais; exames
e procedimentos invasivos, sendo preconizado o uso de etiquetas ou pulseiras de
identificação com a utilização de, no mínimo, dois identificadores (ex.: nome e
data de nascimento).
Meta 2. Melhorar a comunicação efetiva
Uma comunicação efetiva, que seja
oportuna, precisa, completa, sem ambiguidade e compreendida pelo receptor,
reduz a ocorrência de erros e resulta na melhoria da segurança do paciente.
As comunicações mais propensas a erros são as
prescrições verbais, e aquelas feitas por telefone, quando permitido pelas leis
ou regulamentos locais. Outra comunicação suscetível a erros consiste na
informação de resultados de exames críticos. É recomendada a adoção de um
processo que garanta a anotação de toda a prescrição ou resultado de exame,
pelo receptor da informação; a releitura da ordem ou resultado do exame por
parte do receptor; e a confirmação de que o que foi anotado e lido está
correto.
Meta 3. Melhorar a segurança dos medicamentos de alta vigilância
Medicamentos de alta vigilância são
aqueles medicamentos associados a um porcentual elevado de erros, com risco
mais elevado de resultados adversos, e medicamentos com aparência e nomes
parecidos. Existem listas de medicamentos de alta vigilância disponíveis em
instituições como a OMS e o Instituto de Práticas Seguras de Medicação (ISMP).
Para prevenir erros relacionados à
administração indevida, estes medicamentos devem estar identificados (com
rotulagem que o sinalize como medicamento de alta vigilância) e segregados, ou
seja, armazenados em locais previamente definidos, de preferência fora das
unidades de cuidado.
Meta 4. Assegurar cirurgias em local de
intervenção correto, procedimento correto e paciente correto
Cirurgias ou
procedimentos invasivos em locais ou membros errados são erros totalmente preveníveis,
que ocorrem em função de falhas na comunicação e na informação.
A adoção do Protocolo Universal para
prevenção de cirurgias com local de intervenção errado, procedimento errado ou
pessoa errada criado pela Joint Commission visa prevenir erros desta natureza. Este protocolo inclui:
- Marcação
do local da cirurgia ou do procedimento invasivo. A marcação recomendada é um
círculo ou dois círculos circunscritos simulando um alvo. Cuidado! O uso de
ataduras para enfaixar membros a serem operados NÃO é considerado método seguro
de marcação do sítio cirúrgico.
- Uma
lista de verificação pré-operatória para confirmar que procedimentos
importantes como a avaliação pré-anestésica, anamnese, exame físico e
consentimento informado foram realizados.
- O TIME OUT,
uma verificação final, feita no local onde a cirurgia ou o procedimento
invasivo serão realizados, em voz alta, pela equipe responsável. Nesse momento,
confirmamos a identificação do paciente, o procedimento e o sítio cirúrgico,
utilizando técnicas de comunicação ativa entre todos os participantes da
equipe.
Meta 5. Reduzir o risco de infecções associadas aos cuidados de saúde
A prevenção e o controle de infecções
são um desafio para a maioria dos setores de cuidado à saúde, e as crescentes
taxas de infecções associadas aos cuidados de saúde são uma grande preocupação
para os pacientes e profissionais de saúde. A higiene adequada das mãos é
essencial para a erradicação dessas e de outras infecções.
Diretrizes para a higiene das mãos
reconhecidas internacionalmente são disponibilizadas pela Organização Mundial
de Saúde (OMS), pelos Centros para Controle e Prevenção de Doenças dos Estados
Unidos (US CDC) e por diversas outras instituições nacionais e internacionais e
os serviços de saúde devem garantir a adoção destas estratégias e sua efetividade.
Meta 6. Reduzir o risco de lesões ao paciente
decorrente de quedas
As quedas respondem por uma porção
significativa de lesões em pacientes hospitalizados. É recomendada a definição
e implementação de um protocolo de prevenção de quedas
onde todos os pacientes sejam avaliados e reavaliados periodicamente em relação
ao risco de queda, incluindo o risco potencial associado ao uso de medicamentos
prescritos e a adoção de medidas para diminuir ou eliminar qualquer risco
identificado, quando possível.
Em todo o mundo, muitos serviços de saúde vêm implementando estas ações para reduzir incidentes relacionados à assistência e garantir um cuidado seguro e efetivo. No Brasil, não vem sendo diferente... Muitas experiências neste sentido vêm sendo discutidas e implementadas, principalmente agora com o lançamento, pelo Ministério da Saúde, do PROGRAMA NACIONAL DE SEGURANÇA DO PACIENTE, em abril deste ano.
Mas este é assunto para outro post...